AFINAL,
O QUE É RESILIÊNCIA?
Acredito que uma das maiores lições que aprendi nos meus
últimos anos foi a tal da resiliência. A palavra pode estar na moda, mas...
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nem de
longe, é algo que se pratique com facilidade. É preciso maturidade e força de
espírito para vivenciá-la na prática.
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Gosto de pensar num exemplo assim: se uma criança morre de
medo de injeção, pode ser que no momento da aplicação, de medo e revolta, ela
comece a chorar, gritar e a debater-se. Como o medicamento deve ser tomado,
alguém irá segurar a criança até que ela esteja então medicada. Mas é claro que
o choro, os gritos e o “ser segurado à força” acabam sendo muito mais
traumáticos do que apenas a dor de uma agulhada.
Temos tanto medo de sofrer, que somos capazes de fazer tudo
contra uma possível dor, na crença de que somos fortes o bastante para eliminar
os sofrimentos de nossas vidas.
Somos tão inocentes e imaturos, que durante a maior parte da
vida choramos, gritamos e nos debatemos exatamente como aquela criança. E quem
nos segura é a própria vida, que nos imobiliza ainda mais, quando tentamos
fugir de uma determinada situação.
Se eu me revolto em relação a minha família, a minha raiva me
faz sofrer ainda mais aquilo que já me machuca. E quanto mais eu alimento este
sentimento, maior ele fica. O sofrimento cresce à mesma medida em que eu vou me
tornando mais dependente deste rancor.
Se no trabalho eu não aceito como as coisas funcionam, mais
elas continuarão a funcionar da maneira que me incomoda.
Se a pessoa que eu amo me irrita de uma determinada maneira e
eu não aceito esta determinada característica, cada vez mais visível este ponto
se torna para mim.
Quanto mais eu não gosto de uma pessoa, mais eu terei que
conviver com a mesma.
É incrível o poder da atração que a raiva e a revolta
possuem. Quanto mais eu não quero uma coisa, mais esta coisa gruda em mim.
Não é fácil aceitar todos os familiares exatamente como eles
são. Nem as situações no trabalho, quando elas parecem injustas ou ruins. Ou
ainda a pessoa que eu espero ter o resto da vida ao meu lado, com um defeito
irritante. Ou então conviver com alguém que eu detesto. Nada disso é fácil.
E então, como funciona a tal da resiliência nisso tudo?
Aceitando tudo e a todos exatamente como eles são. Este é o
primeiro e maior passo. Quando eu paro de brigar internamente, mentalmente, com
aquilo que me incomoda, eu dou início a um “acalmar” dos ânimos.
Quando eu paro de julgar os meus familiares e entendo que
eles têm o direito de ser como são e me lembro de que eu também tenho defeitos,
toda a raiva e revolta dá lugar a uma paz de espírito antes nunca sentida. O
aceitar as diferenças inclui aquilo que me incomoda. O que difere daquilo que
eu sou ou penso, visto com respeito, me torna humilde e livre, uma vez que
compreendo também as minhas imperfeições.
Somos todos iguais, seres errantes, aprendendo uma lição por
dia, na dor que a vida nos impõe. E nas poucas alegrias que ela verdadeiramente
oferece.
Se no trabalho alguém me incomoda ou algo me perturba,
entendo que de alguma maneira irei crescer com aquilo. Seja no dom da paciência
e da tolerância, ou no me sobressair com calma e autocontrole. É mais do que
talento o ser que se autodomina. É a liderança de si mesmo num mundo onde
tantos ainda acreditam que ser forte é questão de autoridade em relação aos
outros.
Aceitação é a palavra chave para uma vida menos sofrida.
Porque quando um sofrimento chega, o me debater apenas prolonga e intensifica a
dor. Quando eu aceito, permito que a dor chegue, observo, analiso e aprendo
algo com ela. Desta forma, assim como a injeção da pequena criança pode se
tornar um drama ou uma leve picada, nossas vidas podem se tornar mais fáceis,
se eu aceito o que a vida me impõe.
Nada vem sem alguma lição. E quanto mais eu aceito o que
chega, mais rápido também se vai.
Resiliência não é um ato e nem um momento. Resiliência é
prática, e constante. Aprendizado que nos ilumina por dentro. E depois por fora
CAROLINA VILA NOVA ( )
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Carolina Vila Nova é brasileira. Tem cidadania alemã, 40
anos. Escritora e Roteirista. É autora dos seguintes livros: “Minha vida na
Alemanha” (Autobiografia), “A dor de Joana” (Romance), “Carolina nua”
(Crônicas), “Carolina nua outra vez” (Crônicas), “Vamos vida, me surpreenda!”
(Crônicas), “As várias mortes de Amanda” (Romance), “O dia em que os gatos
andaram de avião” (Infantil), “O milagre da vida” (Crônicas) e "O beijo
que dei em meu pai" (Crônicas). Disponíveis na Amazon.com e Amazon.com.br
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